Conhecendo o Desenvolvimento Infantil

 

        Definir o que é desenvolvimento humano é tarefa complexa, pois o desenvolvimento humano refere-se ao desenvolvimento intelectual e orgânico. O desenvolvimento orgânico diz respeito ao crescimento do corpo como um todo, já o desenvolvimento intelectual é uma construção continua caracterizado pelo aparecimento gradativo de estruturas mentais. Antes de iniciar nossa conversa sobre desenvolvimento infantil alguns pontos devem ficar bem claros:

  1.  A criança não é um adulto em miniatura, ou seja, ela está se desenvolvendo, neste período estruturas mentais estão sendo formadas, sendo que algumas delas vão sendo gradativamente substituídas e outras permaneceram ao longo de toda a vida.
  2. A criança apresenta características próprias da sua idade. Isso quer dizer que existem formas de perceber, compreender, e se comportar diante do mundo, próprias de cada faixa etária.

        Tendo estes dois pontos bem claros abordaremos o desenvolvimento infantil a partir do referencial teórico do suíço Jean Piaget (1896-1980).

        Piaget considera 4 períodos no processo de desenvolvimento humano:

             1° Período: Sensório-motor

  • Idade: 0 – 2 anos.
  • A criança conhece o mundo pela manipulação.
  • No final deste período, a criança é capaz de usar um instrumento para pegar um objeto.
  • O desenvolvimento biológico permite o surgimento de novos comportamentos (sentar, andar e falar).
  • Inicia-se a diferenciação entre o seu eu e o mundo exterior.
  • Não compreende regras, somente as imita.

2° Período: Pré-operatório

  • Idade: 2- 7 anos.
  • Aparecimento da linguagem e como consequência a interação e comunicação entre os indivíduos, modificando os aspectos intelectuais, afetivos e sociais da criança.
  • A palavra possibilita exteriorizar a vida interior, portanto corrigir ações futuras. A criança começa antecipar o que vai fazer.
  • A linguagem acelera o pensamento. No inicio a criança exclui a objetividade, o real é transformado em função dos seus desejos e fantasias. Posteriormente utiliza-se de seu referencial para explicar o mundo real.
  • Busca explicação para tudo (fase dos porquês).
  • Grande parte do seu repertório verbal vem por imitação, sem que ela domine o significado das palavras.
  • Dificuldade de reconhecer a ordem em que dois ou mais eventos ocorrem.
  • Começa a surgir o conceito de número.
  • A criança ainda não consegue se colocar do ponto de vista do outro.
  • Surgimento de sentimentos interindividuais, sendo que um dos mais relevantes é o respeito que a criança nutre pelos indivíduos que ela julgue superior.
  • Com o domínio ampliado do mundo, seu interesse pelas diferentes atividades e objetos se multiplica.
  • A maturação neurofisiológica permite o desenvolvimento de novas habilidades, como a coordenação motora fina.

               

3° Período: Operatório-concreto

  • Idade: 7 a 11 ou 12 anos.
  • Consegue estabelecer relações que permitam a coordenação de diversos pontos de vista.
  • Ela passa a ser capaz de cooperar com os outros, trabalhar em grupo e ter autonomia pessoal.
  • Estabelece corretamente relações de causa e efeito
  • Consegue sequenciar ideias ou fatos.
  • Trabalha com duas ou mais ideias sobre o mesmo ponto de vista.
  • Forma o conceito de número.
  • Noção da conservação da substância/matéria do objeto (comprimento e quantidade) – 7 anos.
  • Noção de conservação de peso – 9 anos.
  • Noção de conservação de volume – 11anos.
  • Aparecimento da vontade como qualidade superior que atua quando há conflitos de tendência (fazer a lição ou brincar).
  • Começa a organizar valores morais (considera a intenção da ação, se foi sem querer não deve ocorrer punição).
  • O grupo satisfaz progressivamente suas necessidades de segurança e afeto.

Conservação da quantidade de matéria – Os dois objetos acima partiram de uma mesma quantidade de massinha de modelar: a quantidade se manteve apesar da forma mudar

4° Período: Operações Formais

  • Idade: 11 ou 12 anos em diante
  • Raciocina por meio de hipóteses.
  • Capacidade de criticar os sistemas sociais e propor novos códigos de conduta: discute valores morais de seus pais e constrói os seus próprios (adquirindo, portanto, autonomia).
  • Ao atingir esta fase, o indivíduo adquire a sua forma final de equilíbrio, ou seja, ele consegue alcançar o padrão intelectual que persistirá durante a idade adulta.

        Assim, deve ficar claro que para Piaget cada período é caracterizado por aquilo que de melhor o individuo consegue fazer. Todos os indivíduos passam por todas as fases, nessa seqüência, porém o início e o término de cada uma delas vai depender das características biológicas de cada um e também das características do meio em que a criança vive, ou seja, se é um ambiente muito ou pouco estimulador, pois o conjunto de estimulações ambientais altera os padrões de comportamento da criança. 

Referências

LA TAILLE; OLIVEIRA, M.K; DANTAS, H. Piaget, Vygotsky, Wallon: teorias psicogenéticas em discussão. São Paulo: Summus, 1992.

PIAGET, J. Epistemologia genética. São Paulo: Martins Fontes, 1990.

PIAGET, J.;  INHELDER, B. A psicologia da criança.  Rio de janeiro: DIFEL, 2006.